sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

“Quem cedo madruga encontra baratas pelo caminho”

Eu, como a maior parte das pessoas, quando acordo no meio da noite não posso começar a pensar na minha vida e obrigações, que não consigo mais voltar a dormir. Eu comecei a pensar que ainda precisava fazer a geléia de damasco para rechear um bolo. Pronto perdi totalmente o sono. Então fui a cozinha para cortar o mau pela raiz. Comecei a lavar a louça do jantar para fazer a geleia com a cozinha limpa. UMA BARATA. Daquelas pequeninas... o sono me ajudou a ter alguma reação que não fosse pânico. PÁ. A esmigalhei com o chinelo. Pronto, problema resolvido. Limpei o local, lavei as mãos e voltei a lavar a louça. Pronto, pensei, sem barata, sem louça suja, pia limpa, agora é só começar. OUTRA BARATA. Merda, o verão começou. Ah, foda-se! Agora já estou suficientemente acordada para ter medo de barata. Missão geléia abortada, vou cozinhar de dia quando puder limpar bem a cozinha e as baratas estiverem dormindo.


sábado, 12 de novembro de 2011

UMA CENA

Ela anda pela Avenida Paulista. Está um dia chuvoso. Raspa as solas dos seus sapatos no chão antes de entrar no Conjunto Nacional.

Caminha dentro do prédio até uma portinha estreita que dá para uma rampa em que há vitrines com livros dos dois lados. Avança mais alguns passos e vislumbra os menaninos repletos de livros. Passeia entre as estantes e encontra a seção de livros nacionais. Ela nunca leu um livro em Português; decide pegar “ A hora da Estrela”. Dirige-se à cafeteria da livraria e pede um café para tomar enquanto folheia um livro. Puxa a cadeira, senta-se e o abre.

-Aqui está o seu café.

-Obrigada -dando um leve sorriso enquanto adoça o café.

-Posso me sentar aqui? As outras mesas estão cheias -pergunta um moço que beirava os trinta anos.

-Ah! Sim, Claro! -virando uma página do livro e dando um gole no café.

-Posso me sentar aqui? -virando uma página do livro e dando um gole no café.

-Você tem um sotaque diferente. Você não é brasileira, é?

-Não, sou da Republica Tcheca; Estou aprendendo Português; tenho uma prima que mora aqui.

-Você fala muito bem nossa língua -olhando a capa do livro -Gosta de Clarice?

-Para falar a verdade, eu ainda não leio bem em Português. Peguei esta livro porque uma amiga me recomendou, mas já estou gostando pelo pouco que li. Depois do café vou comprá-lo.

O moço sorriu, olhando para ela.

-Eu não perguntei o seu nome...

-Teresa. E o seu, eu também não perguntei...

-João.

-Você é daqui de São Paulo?

-Sim. Moro aqui desde que nasci.

-É, São Paulo é uma cidade caótica, mas estou gostando dela.

-Você já teve o privilégio de pegar o metrô no horário de pico?

-Já -disse rindo.-Eu ainda não perguntei oque você faz...

-Sou arquiteto. E você?

-Fotógrafa. Estou tirando fotos de pessoas de diferentes lugares do mundo para uma revista tcheca.

-Nossa! Muito legal!

-Senhor, aqui está o seu café. Açúcar ou adoçante?

-Açúcar, obrigado!

-Agora que você terminou de tomar o seu café, o meu chegou.

-Ah, eu te espero...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

DIÁLOGO

HOMEM-H


MULHER-M



M- Estranho...

H- Oque ?

M -Nada.

H- Como Nada? Você disse: Estranho.

M -Esquece.

H -Eu sou estranho?

M -A situação.

H -Qual?

M -Esta!

H -Estar no trem?

M -Não.

H -Você é irritante...

M -Você também.

H -Oque você esta pensando?

M -Acho que te conheço.

H -Da onde?

M -De nenhum lugar.

H - Então você não me conhece!

M -Conheço.

H -Como?

M -Você quer saber?

H -Estou perguntando.

M -Isso não quer dizer que você queira saber...

H -Quero.

M -Eu te criei.

H -Como assim?

M -Como assim, oquê?

H -Você me criou...Eu nem te conheço!

M -E precisa me conhecer? Só eu preciso te conhecer.

H -NOSSA! EU NEM SEI PORQUE ESTOU CONVERSANDO COM VOCÊ, VOCÊ É MALUCA!

M -Você é um personagem meu.

H -Eu sou um PERSONAGEM SEU? Há há, se esse metrô não estivesse andando com velocidade reduzida, eu já teria parado de conversar com você!

M -Então por que não para? Não?... Eu escrevi o nosso dialogo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CATARSE

Há aproximadamente um ano..

Estava na biblioteca procurando o cara do xérox. Finalmente tinha conseguido encontrar a edição daquela revista 2005 e precisava de uma cópia. Após uma hora, o moço chegou. Subi as escadas com as folhas monocromáticas na mão, sentei na grama. O sol estava quente. Segurei as pontas das folhas com o dedo para elas não saírem da ordem.

O sol estava quente. Não gosto do tempo quente, mas naquele momento o sol parecia amenizar o frio que sentia na barriga. Coloquei a jaqueta. Arregacei as mangas para que elas não enganchassem no papel. Coloquei os óculos escuros, eles suavizavam a luz que refletia nos espaços brancos da folha e me fazia olhar através de lentes as paginas que tinha medo de encarrar. Olhei a foto inicial da reportagem. Respirei fundo. Enquanto meus olhos decifravam aquelas palavras, dava curtos sorrisos de desabafo. Eles se dissolviam ou se repetiam a cada página. Minhas mãos tremiam. Li a última palavra, descansei as folhas xerocadas ao lado. Minha respiração ainda estava acelerada, apoiei os cotovelos no joelho e olhei para a cidade. Minha respiração ficava mais calma.

domingo, 23 de maio de 2010

UM CHARUTO PODE SER APENAS UM CHARUTO MAS UM CAFÉ NÃO É APENAS UM CAFÉ

Uma das coisas que mais gostei quando fui à Buenos Aires, foi a comodidade que se tinha em cafeterias e bares. Lá os garçons servem com calma, o cliente pode ficar sentado por horas lendo, estudando ou conversando com os amigos.
Isto é uma coisa rara de se ver aqui em São Paulo. Quando você come ou toma um café logo levanta, não é só influência da cultura fast food , aqui tem pouca oferta de cafés para a procura, principalmente no coffee break. Aqui é assim ou você levanta por educação para as pessoas que aguardam em pé, ou você é expulso do estabelecimento.
Ontem a noite eu estava sentada no café, onde habitualmente estudo antes de ir para aula. O dono fez questão de pedir que eu me retira-se pois não é mais permitido estudar no local. Eu acho compreensível não permitir que uma pessoa estude no estabelecimento, se ela não estiver consumindo nada ou estiver ocupando lugar enquanto outra pessoa deseja sentar. Acontece que eu não me encaixava em nenhuma destas situações, sempre consumi coisas lá durante os estudos, e também nunca ocupo mesa quando o café esta cheio. OK politica nova da cafeteria, mas para mim o grande diferencial de lá era poder estudar num lugar tranquilo, enquanto saboreava um café e comia alguma coisa, ou ler algum livro quando já tinha terminado de estudar. Engraçado esses dias quando encontrei um amigo meu, ele disse que sentia saudades deste café, porque representava para ele um lugar onde ele podia relaxar de um dia estressante, agora somos dois.
Não irei mais a este café, afinal eu não frequentava lá só para saborear o café mas também para saborear o ambiente. Agora terei que encontrar um outro café em que eu possa estudar. Queria que as pessoas entendessem que um café não é só um café, e que não tem nada melhor do que saborear um café, após um dia cansativo, enquanto lê um livro.

domingo, 2 de maio de 2010

Delicada Caça

Está uma noite fria em São Paulo. Vitor atravessa o Viaduto do Chá, com passos largos e rápidos enquanto gotas de chuva molham suas botas e umedecem suas calças. Anda pelas ruas vazias até chegar à Praça Roosevelt e entra no café de um dos teatros.Ao entrar repara que o café está quase vazio a não ser pela moça atrás do balcão e dois garotos. Um está sentado com um chapéu ligeiramente inclinado, enquanto faz uma expressão de cowboy americano. O outro está sentado um pouco mais distante tomando um copo d'água.Vitor senta ao seu lado, puxa o maço de cigarros, coloca um na boca, “Cigarro?” Se dirigindo ao garoto e acendendo o cigarro. “Não, obrigado, não fumo.” “Café?” “Claro.” “Puro?” “Puro.” Vitor olha para o moça. “Dois puros.” A moça assente com a cabeça e se retira..Vitor olha para o garoto, os dois devem ter mais ou menos a mesma idade. “Qual peça esta passando hoje?” “Dois Perdidos Numa Noite Suja.” “É boa?” “Bom, num sei, eu gosto de Plínio Marcos.” Vitor dá um sorriso. “Acho que vou arriscar.” A moça entrega os dois cafés e diz, puxando uma cestinha, “ Aqui tem açúcar.” O garoto coloca açúcar no café, dá um gole e olha para Vitor. “Você não me disse seu nome.” “Vitor. E o seu?” “Paulo.”Um homem sai detrás das cortinas que cobrem a entrada do teatro e se prepara para recolher os ingressos. Vitor e Paulo dão os últimos goles no café, correm para o caixa onde pagam a conta e compram os ingressos.Entram e sentam nas primeiras fileiras da platéia vazia. “Estranho não ter ninguém né?” Sussurra Vitor. “Deve ser porque é véspera de ano novo.” Diz Paulo, meio sem graça. “Olha! Vai começar.”A peça termina lá pelas dez, Vitor e Paulo ficam se entreolhando. “Então, você quer dar uma volta, ou precisa ir?” Diz Vitor, meio encabulado. Paulo o olha. “Acho que preciso ir.” “ A tá. Entã...” Paulo o interrompe. “Se quiser, eu posso te dar uma carona.” “ Ah não precisa . ” “Sei la, até o metrô?” “ Não, eu vou a pé.” “Bom, se quiser jantar em casa?” Vitor olha Paulo com um olhar que fica entre a sedução e o sarcasmo. Paulo fica balançado e sem graça, sente-se hipnotizado por Vitor e não faz a menor idéia do porquê tinha acabado de chamar uma pessoa que mal conhecia para jantar em sua casa. “Quero sim”, responde Vitor e ambos entram no carro. Os dois chegam ao apartamento de Paulo, acendem as luzes e tiram os casacos. “Você morra sozinho?” Pergunta Vitor. “Não, moro com uns caras da faculdade, mas hoje é véspera de ano novo e eles foram passar com a família.” “Hum.” “Gosta de lasanha?” “Gosto.” “Tá, vô esquentar”, depois de alguns segundos Paulo volta. “Vai demorar uns quinze minutos.”Vitor lança um olhar penetrante a Paulo, este estremece e suas mãos começam a suar. Ele se aproxima de Vitor, que o beija. Seus lábios agora encostados, suas línguas quentes se entrelaçam, seus corpos unidos, Paulo coloca a mão na cintura de Vitor e acaba ferindo o canto da boca em seus dentes pontiagudos, Vitor passa a mão entre os cabelos de Paulo e beija seu pescoço, afunda seus dentes delicadamente, Paulo sente um arrepio e vai desfalecendo lentamente, enquanto Vitor suga seu sangue. Vitor segura o corpo de Paulo desmaiado, o deita no sofá e o cobre com sua jaqueta. Realmente sente um grande carinho por Paulo e não é capaz de sugar todo o sangue para sedar sua sede. Vitor dá uma última olhada no garoto, sai e fecha a porta.